terça-feira, 23 de setembro de 2014

Um homem de sorte-miniconto



Quando tinha apenas sete anos, vivia em São Paulo com meus pais e irmãos debaixo de uma ponte na mendicidade. Era triste não ganhar presentes no Natal, a cidade reluzia e eu nada para comer. Meu estômago roncava a fome. Ô vida desgraçada.
Banho nem pensar, mas tinha algo no meu olhar e, quando refletia meu rosto num pedaço de espelho, sentia que algo bom iria acontecer comigo, pois a esperança era a cor dos meus olhos.
Com o pouco que conseguia ganhar dava para comprar: alguns pães e uns tomates amassados e ao chegar em casa sem dinheiro para a pinga dos meus pais, apanhava muito e corria para me esconder numa esquina qualquer.
Mas um dia tudo mudou na minha vida, um casal que sempre passava por mim, além de me ajudar, mudou radicalmente minha vida, pois quis adotar-me e minha mãe disse: pode levar, isso não vale pra nada. Chorei.
Depois de todos os papéis de adoção assinados sumimos para uma cidade da Região Sul. Lá eu cresci, estudei nos melhores colégios e o mais essencial: tinha o amor dos meus "pais".
Não contamos para ninguém o ocorrido, me formei, casei-me com uma mulher maravilhosa, tivemos os nossos filhos na bem querência e, o mais lindo detalhe: cuidamos dos velhos até a morte.
Sinto muitas saudades deles, meu amor por eles é tão intenso que nem um vendaval me fará esquecê-los.